Desde o ataque dos chitauri a Nova York, Tony Stark (Robert Downey Jr.)
vem enfrentando dificuldades para dormir e, quando consegue, tem
terríveis pesadelos. Ele teme não conseguir proteger sua namorada Pepper
Potts (Gwyneth Paltrow) dos vários inimigos que passou a ter após
vestir a armadura do Homem de Ferro. Um deles, o Mandarim (Ben
Kingsley), decide atacá-lo com força total, destruindo sua mansão e
colocando a vida de Pepper em risco. Para enfrentá-lo Stark precisará
ressurgir do fundo do mar, para onde foi levado junto com os destroços
da mansão, e superar seu maior medo: o de fracassar.
Uma das belezas do roteiro de Batman Begins
é o uso da teatralidade na composição do próprio herói encarnado por
Bruce Wayne. Ao dominar as sombras e o medo ele aumenta a dimensão de
seu alter-ego, amedrontando os inimigos antes mesmo de combatê-los,
apenas pelo que representa. Se você achou estranha esta citação ao filme
do Homem-Morcego que redimensionou o personagem, é porque provavelmente
ainda não assistiu Homem de Ferro 3. Há muito de Batman Begins
naquela que é a grande surpresa da nova aventura do super-herói
metálico – a qual, obviamente, não será revelada neste texto em respeito
ao leitor. Entretanto, é possível destacar uma boa dose de ousadia por
parte dos roteiristas, não apenas pela situação em si mas pelo que
representa dentro do panorama político internacional. Não é preciso
pensar muito para fazer uma rápida – e interessante – analogia com o que
acontece no cenário atual.
Dito isto, é importante ressaltar que
Homem de Ferro 3 é uma grande brincadeira, cuidadosamente coordenada pela própria Marvel. Em seu primeiro trabalho após o estrondoso sucesso de Os Vingadores,
o estúdio resolveu alçar o filme a um nível de grandiosidade inédito na
série. Tudo aparenta ser uma grande orquestra, cujo regente é Tony
Stark e os movimentos visam formar um espetáculo para os olhos. Sim,
pois o filme possui cenas que impressionam não apenas pela qualidade nos
efeitos especiais – o ataque à mansão de Malibu é espetacular -, mas
principalmente pela facilidade com que tudo acontece. O melhor exemplo é
a batalha final, na qual um verdadeiro esquadrão de armaduras passeia
pela tela ao bel prazer da necessidade de momento. Simples assim.
Entre a grandiosidade e a teatralidade,
Homem de Ferro 3 oferece ao espectador exatamente aquilo que se espera de um filme deste tipo: humor, ação e surpresas. Robert Downey Jr. mais uma vez compõe um Tony Stark debochado, mesmo que em doses menores e menos inspiradas do que o mesmo personagem em
Os Vingadores.
Há um lado mais humano em Stark, mais falível, ressaltado também pelo
maior destaque dado ao milionário em detrimento de seu alter-ego
metálico. O Homem de Ferro em si tem menos espaço na trama, o que não
significa que os trajes não sejam quase onipresentes. Há no filme um
duelo implícito entre homem e máquina, no sentido de um completar o
outro sem que haja um grau de dependência. Com isso Stark conduz os
trajes como se fossem meros brinquedos, ajudando a compor o clima de
brincadeira que impera durante boa parte do filme. Além disto, dá ao
espectador a chance de ver Downey Jr. exercitando seu lado heróico sem
precisar da muleta das armaduras.
Entretanto,
nem tudo é perfeito no longa-metragem. Há ao menos dois pontos mal
desenvolvidos na história como um todo, referentes à personagem de Rebecca Hall
e à própria tecnologia Extremis. Em determinado momento o roteiro
aparenta pouco se importar em explicar melhor a função de cada um dentro
da trama, usando-os apenas para produzir mais cenas de ação e momentos
de impacto emocional. Outro ponto a se ressaltar é a questão da
violência. Isto não chega a ser um ponto negativo, mas choca ver Tony
Stark lidando com a possibilidade de matar de forma tão natural.
Homem de Ferro 3
é, sem dúvidas, o filme mais violento dentre os estrelados pelo
super-herói, mesmo que não seja uma violência explícita. Além disto, os
mais puristas podem ficar ofendidos com algumas mudanças importantes em
um personagem clássico dos quadrinhos.
Com diversas cenas em que
Tony Stark pode usar à vontade seu sarcasmo inconfundível e uma edição
esperta, que cria algumas surpresas para o espectador,
Homem de Ferro 3
diverte bastante. É também um filme que avança na história do
personagem, promovendo mudanças que com certeza influenciarão sua
participação nos próximos filmes. Apesar de trazer um certo clima de fim
de festa em seu desfecho, a última frase mostrada nos créditos finais
não deixa dúvidas: “Tony Stark voltará”, no melhor estilo James Bond.
Nem que seja apenas para Os Vingadores 2,
no ainda longínquo 2015. Fica também o lembrete de que o filme, assim
como os demais produzidos pela Marvel, conta com uma cena pós-créditos.
Mais divertida, no espírito do filme, do que apontando os caminhos que o universo Marvel seguirá daqui para a frente. Vale a pena aguardar um pouco para dar mais algumas risadas.